20.12.08

O Homem, A Bicicleta e A Desventura.

Noite passada, vi um homem a espancar sua bicicleta.
Embriagado, xingou a deus e o mundo, incluindo a pobre bicicleta. Arrastou-a, impiedosamente, pela calçada de paralelepípedos, pelo áspero asfalto da rua. Antes que pudesse conter-me, eu havia criado um ponto de vista sobre o evento.
Pus-me, então, a pensar:
Que fizera a pobre bicicleta?
Não trabalhara de sol-a-sol arduamente sem sequer queixar-se (exceto por guinchos ocasionais)?
Não carregara, em silêncio bicicletal, o peso de homens e mercadorias sem reclamar?
Não divertira os filhos dele, até que suas panturrilhas cansassem de tanto exigirem de seus pedais e corrente?
Não lhe salvara a pele quando estivera atrasado para o serviço?
Que fizera a pobre bicicleta?
A pobre bicicleta falhara.
Sem manutenção, regulagem, cuidados que qualquer um teria com sua nobre companheira, a pobre bicicleta falhara.
E, puxa, ela já deveria saber: as nobres bicicletas nunca falham. E, por mais que nunca tenham vacilado em vida, as pobres bicicletas falham em algum momento.
Confesso: simpatizei-me para com a pobre bicicleta. Provavelmente, a esta altura de Dezembro, já deve estar largada em algum barracão à mercê da sorte.
Ainda assim, deixo aqui meus sentimentos.
Que fizera a pobre bicicleta?

Nenhum comentário: